O pior que pode acontecer é que este guião seja apenas um
descritivo de medidas de austeridade sem um objetivo. Estou certo (ou espero) que
irá além disso.
Espero que este Guião, mais do que uma enumeração de medidas
avulsas, seja uma verdadeira matriz estabelecendo linhas orientadoras,
objetivos e uma visão global, que até agora tanto tem faltado.
Este guião pode trazer sonho à política e isso faz tanta
falta a Portugal. Falta sonho enquanto objetivo, algo que nos faça desejar correr
para alcançar uma meta.
Ter um objetivo que vá para além de pagar com língua de palmo
aos credores é fundamental e esse tem sido um dos pecados capitais da
Governação Passos Coelho. E tem-no sido porque essa falta sente-se na
desorientação que perpassa do conjunto das medidas tomadas e dos discursos
políticos, e porque tal tem sido uma das razões para o profundo afastamento entre
cidadãos e política.
O regresso de Sócrates arrisca-se a ser aplaudido exatamente
por isto. Um dos traços marcantes da personalidade política de Sócrates é a
gestão deste sonho. Sócrates fez (faz?) o País sonhar. Sonhar que podia ser uma
nação de bem-estar, desenvolvida, inovadora e líder. Veja-se as apostas nas energias
renováveis, o projeto da parque escolar, os Magalhães, o TGV.
O problema de Sócrates foi não existir capacidade para
abraçar tantos projetos (ainda por cima quando mal geridos) ao mesmo tempo. E
esse é também um traço importante de governação que foi deliberadamente esquecido
por Sócrates: gerir bem os dinheiros de todos os portugueses.
É interessante pormos em confronto os modelos de governação Sócrates
e Passos Coelho. No primeiro apostou-se no sonho esquecendo a necessidade de
ter os pés na terra. Na governação Passos Coelho, Portugal foi obrigado a
assentar os pés na terra (e a curvar-se a olhar para os pés) esquecendo o
sonho.
Passos Coelho não é sonhador por natureza e não se dá muito
bem no fato de aluno certinho sempre com os pés na terra, mas tem aquilo que
quis: governar. Já Sócrates dá-se muito bem com o sonho e vive mal com a falta
de poder e o fato de aluno certinho e com pés na terra também não faz o seu
género.
Provavelmente a luta nas próximas legislativas vai ser entre
estas duas visões.
mto bom!
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